MESA REDONDA: PERFUMES E COMIDA

A História dos Perfumes conta que eles já serviram para diversos fins. Do culto aos deuses à proteção das doenças, passando pela ode ao corpo. As fragrâncias eram caminho para nos levar a um deus a um mesmo tempo em que repeliam o mau cheiro que, no nosso entendimento à época, era o condutor das doenças ruins. 
PERFUME HISTORY
The perfume maker, Rodolphe Ernst

Atualmente, se formos observar as campanhas publicitárias, a maioria das fragrâncias está acompanhada por um discurso que apela para o sensual e/ou erótico. O corpo está em evidência, nos perfumes. 

Se há 20, 30 anos os perfumistas queriam deixar nossa pele com uma sensualidade sujinha cheirando à própria pele suada (civeta, oud) ou uma sensualidade limpa como recém saída de um banho e envolta em lençóis macios (almíscar), os últimos 10 anos mostram um discurso diferente. Estamos em uma era que chamo de Fase da Oralidade, na Perfumaria. Como assim?

Um conceito de sensualidade e erotismo nos perfumes impera na indústria perfumada nesta última década. São cheiros que parecem ter saído diretamente da cozinha e que quando aspergidos sobre a pele nos fazem querer: cheirar, morder, lamber. O prazer olfativo está centrado em ações tipicamente pertencentes ao paladar.

CHEIRO DE CHOCOLATESão perfumes com chocolate meio amargo, chocolate branco, caramelo, algodão doce, torta, trufa, sorvete, doce de figo, panna cotta... e acrescento: você já observou que além de nos deixarem com vontade de comer alguns perfumes dos últimos anos têm nos deixado com vontade de beber?

Perfume com café, chá com especiarias mil,  mojito, pina colada, champagne; beber e ainda tragar.

Dos deuses ao deus Corpo - os perfumes representam uma fase da humanidade, em que ainda não conseguimos criar cheiros desvinculados dos prazeres de outros sentidos





Nossa Mesa Redonda sobre perfumes e pratos de comida conta com a participação de colegas e amigos blogueiros sobre Perfumes :

O Templo dos Perfumes
Perfume Bighouse
Vanessíssima
Pimenta Vanilla
A louca dos perfumes
Perfumart
1 nariz
Le monde est beau
Parfum et poesie

E no seu conceito de perfume sensual, você se identifica mais com os franceses e sua naturalização dos cheiros? Ou curte a lógica higienista dos americanos que afirma termos que cheirar limpinhos? Ou você prefere essa intensa Oralidade atual?


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25 comentários :

  1. Dâmaris,

    Num primeiro momento diria sem dúvida alguma : a naturalização do franceses! Por mais que se queira um cheiro agradável, único, sofisticado e sensual , nada disso pode deixar de remeter a nossa pele: é aquela história, a pele pura e simples, não tem tanto glamour, há que se acrescentar os perfumes e toda a sua arte, mas arte alguma pode sobrepujar o nosso cheiro, digo no sentido de que da mesma forma não dá para ficar "apenas no cheiro natural", também não podemos ignorar o "dito cheiro natural", sob pena de não haver uma boa química, bom cheiro, olfato agradável aos narizes, emoções e olhos!

    Todavia, essa intensa oralidade atual, essa profusão que nos associa a "cozinha/paladar" também é muito sedutora, pois querendo ou não, por mais que não se aprecie tanto perfumes "doces" ou "gourmand" inexoravelmente, estamos ligados a várias sensações que tais cheiros nos despertam por já estarem introjetados nas nossas emoções, sejam por acontecimentos isolados( uma ocasião em especial), ou ao longo da vida, afinal: quem nunca esteve, ou nunca está envolto em algum evento, que não envolva comida/bebida? O almoço de família, o cafezinho com as amigas, o chá da tarde, uma browneria, uma cafeteria- são ocasiões em que vamos resolvendo a vida, colocando o papo em dia, estreitando laços, tudo de uma forma aprazível e tendo como "pano de fundo" essa coisa do cheiro/oralidade/comida, acaba que absorvermos tudo isso e não dá para ficar indiferente, vamos tendo uma memória afetiva despertada e alimentada, logo, com os tais perfumes, é natural que haja essa "explosão" de apreço, que caia no agrado.

    Só acho que não precisava ter "combinações"( se é que se pode falar assim) tão lineares....acaba que ocorre uma "mesmice olfativa", onde tudo é tão doce e tão
    pouco explorado, que fica repetitivo, é o "mais do mesmo".

    A meu gosto ( e não sou nenhuma entendedora), o bom mesmo é quando há uma junção de tudo!!!! Tipo o Le bain, é um perfume que tem tabaco, tem doce ( sinto amilscar) e acho-o incrível, contudo, não desprezo os perfumes simples, acho que tudo vai do nosso momento, ocasião, do clima, do nosso estado de espírito, da mensagem que queremos passar e do que estamos sentindo, então, a meu ver, quanto mais, de forma variada, melhor!

    Gosto do cheirinho de limpeza, acho-o bem agradável, mas ao mesmo tempo, nada sensual, acho até um pouco infantil, então, perfumes do tipo : Happy Clinique, Leau to kenzo, Pettit Guerlain , são maravilhosos, mas bem calminhos, uso-os no sol escaldante do Rio de Janeiro, ou quando estou numa vibe bem "limpinha", sem muita pretensão.

    bjs

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    1. Estrela,

      obrigada por topar conversar sobre o tema. Muito interessante o teu trilhar analítico.
      Le Bain é um rico exemplo de perfume cuja qualidade não é expressa em seu valor $. Multifacetado, complexo - rico em nuances.

      Tua linha de reflexão do pq vinculamos cheiros de perfumes a momentos bons tem algo em comum com o que sustentar nosso gosto por baunilha:

      http://villagebeaute.blogspot.com.br/2013/04/por-que-gostamos-de-perfumes-com-cheiro.html

      vínculos afetivos...o que achas?

      bjs

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  2. Excelente reflexão Dâmaris. Atualmente a perfumaria gourmand tem evocado uma infinidade de notas que já tocaram nossa sensibilidade através da culinária. Também das bebidas, alcoólicas ou não, que acompanham as receitas globalizadas. É uma fase marcante que se transformou numa família olfativa muito especial. Mesmo que não seja novidade absoluta, pois as doçuras olfativas sempre existiram, na atualidade conquistaram preferência mundial. Será que o mundo anda carente? Beijocas de Elisabeth.

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  3. A pintura da primeira foto é tão linda que fiquei alguns minutos contemplando-a. Esses encontros são uma delícia para nós leitores, nos deliciamos com a percepção de cada um, e aprendemos um pouquinho mais desse mundo perfumado que é infinito.

    Mas sou mais um banho delicioso e depois me perfumar, mesmo descobrindo que amo perfumes com a nota civeta (o first contém essa nota), mas para mim é parte sexy e sensual. Como também amo o almíscar (que quase todos os perfumes que tenho contém essa nota também).

    E venho me fascinando com o mundo perfumado gastronômico/culinário, são as tentações que o olfato nos prega, rsrs.

    "Volúvel", rsrs, não sei, mas sei que amo perfumes e suas descobertas.

    Um beijo querida
    Malú

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    1. Tenho vontade de imprimir essa foto, Malú, e emoldurar... viajo observando-a, assim como ocorre contigo.

      Esses momentos são tão enriquecedores, não é? 1 mesmo tema suscita diversas interpretações. Qdo organizamos a postagem fazemos questão de não explicarmos muito, justamente para preservamos a criatividade e o estilo de cada um.

      bjs

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  4. Que viés interessante vc abordou Dâmaris! De fato, fugiram do sagrado, flertaram com a medicina, viraram profanos e por fim ficaram asseados. E hoje, com o foco na bem colocada oralidade, flertam com o erótico e com a neurose, nos levando a impulsos que nunca de fato saciam nossa 'fome'... essa introjeção sem fim, esse consumo, essa busca me fez parar e pensar...

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    1. a busca por um prazer inalcançável, Diana... isso dá pano prá muito tecer psi-olfativo, concordas?

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  5. Conseguiu falar tudo falando pouco. Excelente, adoro isso! Os perfumes seguem moda também, adequam-se a uma época. Vivemos, com boas exceções, é claro, a época "leke leke" da perfumaria, rs.
    Estou encantada com essa primeira foto...
    Bjus
    Li

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    1. Não dá vontade de imprimir, emoldurar e pôr na sala?
      Ixi... parece que é mesmo, Lily rsrs
      bjs

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  6. Perfeito Dâmaris! Sintetizou pontos muito interessantes. Amei a Fase da "Oralidade", pura verdade. Bjo!

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    1. Divagando sobre a História da Perfumaria e analisando os últimos anos... cheguei à tal fase. Obrigada, Ju bjs

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  7. O dom de ser sucinta e dizer tanto! Olhando pelo teu viés, a perfumaria está sofrendo com uma "síndrome de Benjamin Button", pois iniciaram pesados, sujinhos, com aquele ar até envelhecido e agora estamos, literalmente, na pueril "fase oral" da infância.

    Qual será o próximo passo? Crescer no ritmo normal?
    Ótimo texto que suscita reflexões!
    Bjxx

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    1. Acho que a Perfumaria de Nicho representa essa busca por um outro ritmo, Carla...o que achas? bjs

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    2. Ai, como gostei dessa associação com Benjamin, indo de velho pra novo, contrário a expectativa! Chegaram enfim, a infância!

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  8. Parabéns pelo post querida! Amei suas reflexões!
    Acho que para mim um pouco de cada tipo é o ideal. Um pouquinho menos para os "cheiros" corporais talvez rsrs.
    Beijo grande
    Maria Ester

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    1. Francesinhos mais ao longe, então querida? :) Vindo de vc o elogio ganha uma responsa imensa!!

      bjs

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  9. Eu fico com os sujinhos, o conforto e afirmação de uma roupa usada!

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    1. que nos entende melhor que as engomadas roupas esterilizadas....

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  10. Belas reflexões... Fase da oralidade foi genial. e adorei vc especialmente lembrar um item que meio que esquecemos: o beber. Ao fazer meu texto me lembrei que me interessava mais pelo beber do que pelo comer
    alguns perfumes andam belas beberagens...;)

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  11. Não dá para imaginar sensualidade com cheiro de limpeza......
    Será que caberia a categoria "Suja gourmand"? Foi a que consegui me encaixar, rss.......
    Sabe onde percebo esse encontro, Dâmaris? Black Orchid.
    Abs!

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    1. rsrs gostei da nova categoria, Ubiratan :) "Suja gourmand".

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