OS PERFUMES DA JULIETTE HAS A GUN - crítica


É uma marca que quer causar (entenda-se chamar a atenção a qualquer custo). Criada e dirigida por Romano Ricci, neto de Nina Ricci e neto de Robert, o criador do fantástico L`air du temps. Ele era do esporte e resolveu mudar de rumo profissional participando da perfumaria de nicho. Lançou em 2006 um perfume e uma marca chamados Juliette has a Gun, Julieta tem uma arma, isso mesmo. A partir do perfil da Julieta de Shakespeare ele quis propôr o perfil de uma nova mulher. Do estilo lady like, delicado, dos perfumes frutados, abaunilhados, doces da casa materna (leia-se Nina Ricci), para se fazer visto por perfumes que levam nomes e propostas mais "dark". O perfume, para ele, é uma arma, arma de sedução, arma para se fazer ver, arma para se fazer sentir.

Imagem publicitária Perfume Lady Vengeance Juliette has a gun


Os perfumes têm nomes e conceitos como estes:

Perfume Miss Charming:

"O perfume de uma bruxa virgem, dócil e provocativa, elegante e sensual. À primeira vista, a senhorita parece bastante inocente. Mas não confie em sua intuição ... Se ela é uma rosa, não se esqueça que ela tem espinhos. Uma fragrância que combina ingenuidade e lucidez. Principais ingredientes: rosa marroquina, almíscar, frutas vermelhos."

FRASCO DO PERFUME MISS CHARMING
Perfume Miss Charming, Juliette has a Gun

Perfume Mad Madame:

"Uma fragrância chipre verde que gira em torno da oxido metálico da rosa, broto de groselha, , amadeirado ambroxam. Explosivo, não deixa dúvidas sobre suas intenções. Mad Madame tem o dom de conseguir o que falou." Ingredientes principais: rosa óxido, groselha, ambroxan."

FRASCO DO PERFUME MAD MADAME JULIETTE HAS A GUN
Perfume Mad Madame Juliette has a Gun

Perfume Midnight Oud:
"Nuvens de fumaça inebriante cativam os sentidos, misturando majestade e fascínio ao misterioso personagem. A particularidade deste perfume é a sua mistura única de luxuoso âmbar e revigorante Patchouli revigorante construído em torno da complexidade e profundidade de Ouds. Ingredientes principais: Oud, açafrão, musk, âmbar, sândalo." 
FRASCO DO PERFUME MIDNIGHT OUT JULIETTE HAS A GUN
Perfume Midnight Oud, Juliette has a gun

Perfume Vengeance extrême:

"Perfume com dosagem incomum de patchouli, rosa da bulgária e baunilha de Madagascar.Nâo pode ser deixada em inocentes mãos." 



FRASCO DO PERFUME VENGEANCE EXTREME JULIETTE HAS A GUN
Perfume Vengeance extrême, Juliette has a gun



Perfume Calamity J

"Um perfume sem notas florais e frutais. Um perfume masculino feito para mulheres. Patchouli, âmbar, íris e musk."

FRASCO DO PERFUME CALAMITY J JULIETTE HAS A GUN
Perfume Calamity J. Juliette has a gun

Perfume Citizen Queen

"Uma senhora nervosa, glamourosa e intimidadora. Ela é tudo isso ao mesmo tempo, dona de uma beleza própria. Impossível descrever ... e é exatamente por isso que ela é tão fascinante. Seu perfume é um Chypre aldeídico misterioso e viciante, no cruzamento da perfumaria moderna e clássica. Romeu ... cuidado! Juliette está de volta, mais do que nunca não capturável.Principais ingredientes: aldeídos, acordo de couro, ládano."

FRASCO DO PERFUME CITIZEN QUEEN JULIETTE HAS A GUN
Perfume Citizen Queen, Juliete has a Gun

Perfume Romantina
"Uma composição almiscarada com um buquê de flores brancas. Romantina é uma ode à despreocupação. Mas, quando de repente ela revela sua verdadeira personalidade, ele flerta com patchouli, quase se tornando um chypre. Principais ingredientes: musk, flor de laranjeira e baunilha de madagascar."

FRASCO DO PERFUME ROMANTINA JULIETTE HAS A GUN
Perfume Romantina Juliette has a gun

Perfume Not a perfume 
"Uma fragrância feita de um único elemento chamado Cetalox. Normalmente utilizada em perfumaria, como uma nota de base, que desempenha aqui o papel principal ... Outra vantagem da presente composição em particular, é que ele é totalmente livre alérgeno. O resultado é minimalista. Principal ingrediente: cetalox."
 FRASCO DO PERFUME NOT A PERFUME
Not a perfume Juliette has a Gun

O que me intriga é que não é um homem envolvido com discussões acerca da situação da mulher em diferentes contextos e culturas. Não há um texto político, filosófico ou social amparando suas propostas (como há em tantas outras marcas respeitáveis). O que me parece é que trata-se de um sujeito que inserido numa história de vida familiar ricamente envolvida com a perfumaria - quis fazer sucesso também com uma proposta conceitual que chama a atenção, não se pode negar. Experimentei algumas fragrâncias rapidamente (antes de conhecer a marca) e dentre as que senti nenhuma era inovadora e propositiva (olfativamente falando). Parece-me mais texto do que contexto e arte em perfume, mesmo.

 Ele diz que quer convidar as mulheres para que tenham outro perfil, para que se "libertem" dos homens e mais: diz que nós precisamos nos vingar? Nos vingarmos de quê, Romano? Para quê? Quem disse que queremos usar a linguagem da vingança e da violência? Quem disse que queremos usar a linguagem do obscuro? Para quê propôr um cheiro com o nome de Lúcifer e dizer que o lado escuro é o nosso futuro? Pelo visto as suas criações querem é isto mesmo, afinal nome, publicidade, fotos, tudo é feito para engrandecer a violência, a intriga, a briga, dentre outros aspectos.

Se depender de mim, não usarei perfumes que vêem as mulheres como
- emocionalmente frágeis
- dependentes de artifícios violentos
- assíduas usuárias de comportamentos vingativos
- que têm em Lúcifer parceiro de presente e futuro
- usam armas e projéteis em seu cotidiano
- vêm o perfume como arma

Mas já sabemos...todas as palavras e produções humanas podem ser usadas para o bem, ou para o mal. Depende de nós lermos as propostas e "alimentarmos" aquilo que acreditamos ser o necessário para a própria vida e a dos outros. 

Como você quer perfumar o seu corpo? Que mensagem você quer transmitir também com o seu perfume?

14 comentários :

  1. Nunca achei muita graça nesta marca , nao sei por que . Agora até achei interessante a maneira que se coloca de que a Julieta de William Shakespeare tem agora uma arma hahahaha. A proposta já os deixa interessante. Agora sim vou querer provar alguns deles . Adorei !

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    1. SKissinger,

      infelizmente a comunicação da marca não foi feliz ao incitar a violência de alguma forma. É necessário sermos criativos na perfumaria feminina? Sim, sou defensora desta bandeira, mas não com o linguajar que JhG tem usado. Dentre os que provei (os mais antigos da marca) nenhum correspondeu, ao meu olfato, à essa fala de inovação, ser diferente, uma nova mulher, por exemplo. Muito texto para pouco produto, sabe....

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  2. Nunca conheci esta marca, mas adorei cada palavra da tua interpretação e assino embaixo: acho que quem escreveu a publicidade deste perfume quis "causar" com as palavras e passou uma mensagem depreciativa sobre a imagem da mulher. Se tentar interpretar vai ver que é superficial demais...
    Aguardemos as próximas, de outras marcas...
    Beijos querida!

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    1. Thaís Helena,
      em um mundo que ainda deprecia a mulher em vários aspectos e sob diversas formas, esse discurso da marca é totalmente desnecessário.:) bj, querida

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  3. Excelente post Dâmaris! Sempre pensei isso dessa marca. O único que conheci foi o Calamity J - pra nunca mais!
    Adorei seu comentário sincero e aberto sobre o que você pensa a respeito das idéias da marca. Geralmente os blogueiros (e as pessoas ) costumam se render a tudo que represente luxo sem uma avaliação crítica.
    bjao
    Janaina F

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    1. Obrigada, Janaina, pelo retorno ao meu texto. A escrita em blog por vezes é solitária, os números de visitação nem sempre dizem se o texto está bom/ruim, e assim por diante. Quando você (e demais leitores e leitoras) escreve (em) se estabelece o diálogo (sempre bem recebido). Em todos os meus textos procuro colocar minha experiência com o tema, fico feliz que neste sobre a marca Juliette has a Gun tal característica também tenha ficado evidente.

      Obrigada! bjs
      Dâmaris

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  4. Acredito que a marca, sabendo do nível intelectual dos amantes da perfumaria de nicho, sabia ,imaginou , talvez, que não soaria ofensivamente a proposta , e foi assim que percebi,julieta nao é tão inocente assim , ela agora tem uma arma , mas não no sentido de revolver e maquinas do tipo , mas de uma "arma" no sentido de segredo infalível. Não sei, talvez eu é que esteja sendo ingenua sobre a proposta, mas a descrição dos perfumes por você os deixou mais interessantes.

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    1. Espero que sim, S.Kissinger..... mas é pq não coloquei as imagens da mulher armada, do revolver e do projétil que a marca divulgou. Atualizei o post com 1 das fotos... qdo puderes dê uma navegada no site da Juliette has a gun http://www.juliettehasagun.com/en/ e me conte o q vc achou das imagens e dos textos divulgados...

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  5. Estou pasma. Essa polêmica me lembrou de um anúncio feito na China por uma fábrica de carros, que fez uso da foto de um bebê morto por um ladrão de carros e divulgou: se comprar o nosso automóvel, isso não acontecerá. A publicidade está abusando!

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    1. Que horror, Kel....se por um lado temos peças de propaganda perfeitas, comunicação de perfumes que mais parecem arte; por outro lado vemos comportamentos que mais parecem significar desespero por alguns momentos de fama.

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  6. NOssa! Também estou pasma. Extremo mal gosto, toda a concepção do projeto as fotos e a proposta, era como eu tinha falado , eu imaginava que era arma no sentido figurado , mas até foto de projétil na caixa e frascos dispostos como caixa de bala tem,uma mulher armada. Um horror total, agora sei por que nunca fui muito com a cara da marca. Dispensável.

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  7. "Not a perfume" o melhor cheirinho dos últimos tempos. Chique, elegante e discreto Q.B.
    Sou esquisita no que diz respeito a perfumes e só uso os da hermès: Eau claire des merveilles, un jardin sur le nil, n jardin après la mousson. Esses são os que uso sempre. Contudo, o "not a perfume" conseguiu chamar a minha atenção por não ser vulgar como todos os perfumes hoje em dia.
    Amei, comprei!

    P.S. A escolha de um perfume vai para além da imagem que a marca quer passar. O aroma fala por si. È independente na medida em que ganha vida própria.

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    1. Realmente os perfumes de hoje em dia pecam na criatividade. Dos que já pude provar da Jhag gostei de apenas 1. Relutei em analisar a comunicação visual da marca; decidi por assim agir pq sei que muita gente não pode experimentar antes e "compra" no escuro pelo conceito e imagem. A propaganda e a publicidade estão aí tbém para isso. Particularmente não contribuirei com uma marca que vê a mulher com a proposta acima referida; ao comprar um perfume que tem este amparo conceitual "patrocino" a propagação do discurso.

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