Houve uma época em que nosso corte de cabelo era o camaleão, nossos ombros pareciam imensos, assim como as sobrancelhas. Misturávamos em uma mesma produção polainas do inverno com calças de ginástica em tons brilhantes e coloridos. Noutro dia, se assim a vontade permitisse, catávamos o camisetão da frenética aula de aeróbica e nada víamos de estranho vesti-la com a mini-saia. Tudo o que antes era detalhe virou necessidade e usado junto, e misturado. O profano e o místico. O erudito com o rocker. O masculino com o feminino. Curtíamos a vida adoidado e cada qual era a estrela do seu próprio show. Entende tudo isso quem viu e quem viveu os anos 80.
O estilo dos anos 80 |
Com os perfumes não foi diferente. Essa sensação de ser a estrela neles também foi intensificada. Tempo da exuberância olfativa, o uso dos perfumes chegou a ser proibido em alguns restaurantes, pois deixavam os demais clientes nauseados e os impediam de sentir o cheiro da comida. Lou Lou, Eden, Obsession, Ysatis, Giorgio, Red Door, fragrâncias que causavam; centradas eram no contrastes. Em meio a eles nasceu Montana Parfum de Peau, da casa que leva o sobrenome de Claude Montana, fundador. Apaixonado por couro e seda, formas geométricas e corpos estruturados inspirou nada mais nada menos que: Jean Paul Gaultier e Alexander Mcqueen.
O estilo de Claude Montana. Fonte da imagem. |
Sentir Montana Parfum de Peau requer uma certa intimidade com os perfumes dos anos 80.
Ele chegou aqui em casa em meio a dias quentes do outono que passou, depois de eu ter visto um vídeo da Carmen, portuguesa que reside na Alemanha. Apesar do meu apreço pelo mundo olfativo dos anos 80, a reação foi intensa. Muito calor para este perfume. O dia 21 chegou e, com ele, os 7 graus. Montana Parfum de Peau caiu ajustado como uma macia e bem usada luva de couro.
Montana Parfum de Peau - Eau de Parfum |
Inicia assabonetado e já nos situa em tempos passados. Sabonete Phebo de Rosas, Alma das Flores tem nele um interlocutor. Montana diz logo no início que sua mulher é feminina e merece um imenso bouquet. Romantismo? Não sei, vejamos o andar dessa carruagem. Sinto o gosto de sabonete na boca e o nariz afundado em rosas vermelhas temperadas com muito gengibre e uma qualquer coisa de pêssego. E à medida em que as horas passam Montana Parfum de Peau não se acalma, continua evoluindo com tantas facetas como já anuncia o contorno do seu frasco. Seu coração mantém as flores românticas como quente/fresco do gengibre, mas ganha o pulsar intenso e amedrontador das tuberosas. Cuidado, elas estão imensas, só para os fortes. Esqueça a tuberosa de qualquer outro perfume. Carolina Herrera Edp, Poison, Giorgio, Red Door e todos os demais são donzelas frágeis perto de Montana Eau de Parfum. Ao longe há um cheiro de Chá mate estupidamente quente, amargo e aquecido com cravos. Toda a plantação de jasmim da casa da vó Maria está aqui, no início do anoitecer. Jasmins cheiram mais estonteantes e sedutores quando as primeiras gotas de orvalho os umedecem.
Nada evapora. Tudo permanece e ganha a companhia de mais nuances. Depois de 5, 6 horas Montana Parfum de Peau começa a suavizar seu lado limpo de sabonete e fica todo Paris dos anos XIX. Cheira sujinho, animálico: cheira a pele suada pós dança. O couro aparece sensualíssimo, não como bolsa nova... mas aquele cheiro de couro pele, que se soma a todos os aspectos já descritos neste imenso post. E para fincar seu nome na história da perfumaria e me fazer amá-lo com admiração, Montana Parfum de Peau me presenteia com cheiro de incenso de sândalo finalizando toda essa sinfonia olfativa.
Se Montana Parfum de Peau é homenagem aos contornos do corpo feminino e ao cheiro de sua pele... para Jean Guichard, perfumista que o assina, somos intensas, complexas e exigimos atenção especial por horas. São obras de arte do Jean, Lou Lou, Eden, Obsession, vários outros florais marcantes, mas que suavizam perto de Montana Parfum de Peau.
Meu kit do Montana Parfum de Peau - Montana Eau de Parfum |
Um floral oriental que tem a melhor projeção, a melhor fixação e mais amplo rastro que já pude sentir em minha vida de apaixonada por perfumes. Alguns resenhistas o apontam como frutal, outros como sendo chypre, outros ainda concordam comigo e afirmam igualmente sentir mais flores com especiarias, incenso e couro pele absurdamente animálico e sensual.
De qualquer forma, é perfume que exige temperaturas muito baixas para ser apreciado, e por estar dentre os mais fortes que conheço confesso: 1 borrifada já tem sido suficiente para me aquecer nestas últimas noites invernais.
Com um abraço perfumado, e saudoso.
* Algumas referências:
Paloma Picasso, Edp;/ Animale feminino; Joop Femme; Aromatics elixir Clinique são fragrâncias fortes e que podem servir como referência de potência para entendermos este Montana Parfum de Peau, EDP.
* Veja também
Elena Vosnaski sobre Montana Parfum de Peau
Yesterday Perfumes sobre Montana Parfum de Peau
e também a review de Divina
* Algumas referências:
Paloma Picasso, Edp;/ Animale feminino; Joop Femme; Aromatics elixir Clinique são fragrâncias fortes e que podem servir como referência de potência para entendermos este Montana Parfum de Peau, EDP.
* Veja também
Elena Vosnaski sobre Montana Parfum de Peau
Yesterday Perfumes sobre Montana Parfum de Peau
e também a review de Divina
Acompanhe:
Instagram: http://instagram.com/blogvillagebeaute
Oi querida...que bom vê-la novamente por aqui! É sempre um prazer te ler....e com a majestade deste post, mais ainda. Estava muito ansiosa por essa resenha, mas devo admitir que me asustou um tiquinho, rsrs.
ResponderExcluirÉ um vidro tentador, sedutor, mas algumas descobertas tuas, me colocou a pensar....será que iria gostar??? Dentro os citados da época de 80, somente está em minha lista o Fidgi EDT, que é tão suave como o caminhar pelas ondas do mar.....não considero forte (talvez o EDP que não conheço)! Mas Lou Lou, Eden e Obsession, devo admitir que jamais tive vontade de comprar...e este aqui lindamente resenhado, (depois daquele vídeo dos perfumes de inverno), fiquei sonhando, desejando, querendo....mas agora terei que rever meus gostos, rsrs.
Como sempre morena.....divinamente resenhado, deliciosamente lido, e muitas outras vezes será lido, até que me convença se conquistarei ele sim ou não!
Beijos querida, saudades também.....venha mais vezes, pois é tão bom estar aqui!
Malú
muito obrigada por teu e-mail de hoje cedo, Malú. Sinto saudade de estar mais vezes por aqui, neste canto onde conversamos sobre arte e tanto aprendemos umas com as outras.
ResponderExcluirChegaste a conhecer o Ysatis, Aromatics Elixir, Charlie Revlon? Ou ainda Animale, Paloma Picasso? Se vc gostou de algum destes pode ser que venha a gostar do Montaninha.. :)
bjs lôra.
Tu és uma querida mesmo! Mesmo com tantos afazeres está atenta aos teus leitores, isso é bom e gostoso, sinto-me acarinhada, rsrs.
ExcluirHuummmm, gostei de saber, conheço todos que citou! Bombas perfumadas para o inverno rigoroso. Ando gostando desses mais encorpados, pois está um frio delicioso por aqui. Bom saber que posso gostar desse também.
Detalhe: Aquele que nós conversamos e queremos (La Perla EDP), dizem ser parecido com Paloma Picasso, mas suave e delicado.....para chegar perto e abraçar, não dizer que já está chegando, entende!
Beijos e que tudo se ajeite rapidamente, tenhas paciência em suas tarefas e que tua pequena também.....logo, logo chegam as férias, Ufa! Virá os dias calmos, serenos e deliciosos, aguardemos, sim?
Beijos minha querida morena.
Malú
Malú, vou atualizar o post...errei com o Fidgi, ele não é os anos 80, é mais antigo. Sorry se te confundi :(
ResponderExcluirOh minha linda.....que é isso! Não me confundiu nada não!
ExcluirE aproveito e te pergunto??? Não sentiu nada parecido com o Rumba e o Diva??? Fiquei interessada agora.....
Beijo
Malú
Malú,
Excluireu não tenho certeza se algum dia já senti o Diva... a Beth, do Bighouse Perfumes é uma apaixonada por ele. Faz associações com o Paloma Picasso.
A Li, do Blog Parfums, associa o Montana ao Rumba. Quando li isso cheguei a pensar em desistir da compra, pois já tenho este do Ted Lapidus. Não resisti, como vês, e cá estou com ele. Diria que eles são estilos da mesma época, mas um não substitui o outro, nem confunde o nariz. Rumba é couro, acordes animálicos e madeiras pungentes. É mais agressivo e explícito. Montana tem flores, tem rosas, tem sabonete... evolui mais lindamente, tem nuances variadas. Os dois se assemelham na fixação e projeção - estupendas e perfeitas para inverno marcante.
bjs
Dâmaris querida!
ResponderExcluirvenho aqui hoje somente para matar as saudades e dizer o quanto fico ansiosa esperando as atualizações do teu blog, só para me deleitar com tuas ótimas resenhas, tudo por aqui revela um singular bom gosto, um aconchegante refinamento e aqui nos comentários somos sempre tão bem acolhidas... obrigada!
No momento tenho dois perfumes eleitos para o frio deste inverno: Jungle L'Elephant, Kenzo e o arrasador Paloma Picasso. Com um inverno de temperaturas ainda oscilantes, também tenho revezado estes perfumes com alguns mais suaves como o meu queridinho Shalimar...
Bem, ainda que apenas de passagem, queria dizer que adorei estar aqui hoje (e todos os outros dias também!) 8-)
beijos!
Thais
Saudades de vc, minha italianinha elegante. Os dias estão tão corridos que nossa vila andou meio parada. :(
ExcluirEstás chiquérrima com estes perfumes invernais. Sabe aqueles perfumes da Contém? Achei um que é parecido com o Kenzo Amour!! Não lembro se gostas desta baunilhinha tbém....
Feliz com tua recepção.
bjs
Dâmaris querida, obrigada mais uma vez!
ExcluirEntão... comprei um perfume Contém 1g que se chama Glamour, ele é bem baunilha, será este parecido com o Kenzo Amour?
Bjs e obg pela dica!
querida, infelizmente só senti e não anotei. Amanhã irei ao shopping novamente e prometo vir aqui te contar. bjs minha italianinha.
ExcluirFoi nos anos 80, ainda criança, que comecei a ter curiosidade por perfumes, Dâmaris....Adorava os perfumes fortes e deliciosos de uma tia de vida mais abastada. Essa tia, em viagens que fazia aos EUA, me presenteava com meus primeiros importados: Fahrenheit, Escape, Drakkar, Jazz...foi aí que tudo começou. Infelizmente percebo que em geral os perfumes desta época parecem ter sido reformulados e "diluídos", perdendo a intensidade e a magia dos originais...uma pena. Sua resenha está estupenda...senti aqui as notas e evolução do perfume, mas acho que não o curtiria, devido ao tom "assabonetado" e com couro dele. (Curiosidade: namorei muito tempo Magie Noire, da Lancôme, até testá-lo numa loja no Chile...e lá estava o toque intenso de sabonete, o que repeliu meu nariz no ato!) Parabéns!
ResponderExcluirSob os ditames da economia e de algumas pesquisas em saúde - diversos perfumes queridos sofreram mesmo alteração ou foram descontinuados, Ubiratan. E pensar que cheiro tem tão forte vínculo com memória e emoção...
ResponderExcluirObrigada, o texto voltou a ficar enorme, vc viu? rsrs É difícil conter, bem sabes.
Menino, tô com um Magie Noire aqui em casa e também não me adaptei. Preciso de mais temperaturas frias para ver se ele o sinto melhor. Por enquanto não nos entendemos direito. :( Até layering já tentei....
Gostas dos mais sujinhos, não é? O curioso no Peau é que ele começa limpo e termina animálico, total contraste.
Obrigada!
Parfum d'Peau! Exuberância, sensualidade e falta de noção! Como vc disse (e como o Rumba), não deixa suas notas iniciais irem embora, 'amontoa' com as demais e segue espetaculoso! Eu, que nasci em 1980 e tenho com carinho lembranças da 'década mágica' adquiri recentemente o Peau, por influência da Li. E não me arrependo! Em mim destacou-se o incenso, as notas melífluas e o couro! Coisa linda...
ResponderExcluiré fantástico, Diana. Fazia tempo que um perfume não provoca imenso impacto olfativo!
ResponderExcluirSim, gosto mesmo dos mais "sujinhos", e adocicados. Então, Damaris....já li que Magie Noire foi reformulado e virou "outro" perfume.....inclusive mudando o vidro, e com isso decaiu muito na fragrância. Gosto dos invernais e com cheiro "retrô"....mas não deu química com ele, rs...Abs.
ResponderExcluircomigo tbém não deu certo ... :( vou investigar para tentar descobrir o que foi. abraços
ExcluirEssa resenha está tão lindamente inspirada que eu, ainda que não conhecesse o perfume que adoro de paixão, poderia tê-lo sentido. Creio serem as melhores palavras que já li sobre ele! Eu não pude resistir a esse perfume e o conheci tentando buscar a fragrância do extinto Exuberance do Boticário.
ResponderExcluirComo haviam feito referência e ele na net, creio que no blog da Srta Anjos, sendo o modelo base do Boticário, fui atrás e encontrei uma mini no ML. Nossa! mas eu não podia contra que o que eu imaginei ser bom era melhor ainda. Usei os 3 mls do frasquinho e depois ganhei amostra e fração da Cássia, até conseguir os meus dois frascos, sendo que um, já se foi. Fiquei com o vintage.
Eu, que sempre idolatrei Sophia Grojsman, descobri em Jean Guichard o meu perfumista preferido ( a dividir o pódio com a fada, rs). Como alguém conseguiu criar Lou Lou, Eden, Obsession e Parfum de peau? Só pode ser um gênio dotado de uma originalidade inigualável!
Sophia cria perfumes onde sua marca fica presente em cada uma das obras mas Jean não trabalha com essa característica. Sua marca pessoal parece ser a de superar toda e qualquer criação no quesito autenticidade, inclusive as próprias criações. Fantástico!!
Também sempre disse que Peau é o Animale ( e também o Rumba com suas notas viciantes de couro). Dos três, no entanto, Peau, com incenso e sabonete únicos tem um equilíbrio doce que os outros não atingiram.
Também sou apaixonada por aquela característica da evolução dessa fragrância, que, com o passar do tempo ganha nuances mais calorosas e, quando eu penso que não teria mais perfume sobre a pele, deparo-me com uma nova faceta deste perfume que se apresenta quente e assentada na pele de modo quase que singular ( Bois de Paradis faz o mesmo trabalho).
E pra concluir, aquele frasco simples e diferente vem pra terminar o processo de sedução do qual não podemos escapar.
Amo Parfum de peau!
Lily
Excluirli tua postagem mais cedo, mas somente agora consigo comentar. Ou melhor: não consigo comentar, apenas te agradecer por engrandecer o post com tua fantástica contribuição. Tens alma poética e é sempre de uma riqueza imensa ler os teus textos. Parfum de Peau conseguiu superar estes todos por sua qualidade inclusive na evolução. Fazia tempo que não era tão impactada.
bjs, poetisa.
Linda resenha!!! Tenho um vintage (aquele da embalagem azul marinho), que volta e meia eu dou uma 'cafungadinha' pra lembrar: um dia todo o exagero foi permitido! Muito mel, couro e aquele toque sintético de laquê - Genial!
ResponderExcluirSimplismente fantástica a tua percepção do Parfum de Peau. Muito obrigado por compartilhar todo seu conhecimento e suas percepções aqui nesse espaço maravilhoso. Parabéns.
ResponderExcluir